Tive o privilégio de ter uma infância maravilhosa, pois minha avó morava com a minha mãe e, em nossa convivência, aprendi muitos ditados populares antigos, utilizados por ela.
Esta semana, estava lembrando das coisas boas que aprendi em minha infância e adolescência e que marcaram minha vida e conduta profissional até hoje. Aprendi um ditado que minha avó dizia que era: menina, não devemos fazer as coisas “para inglês ver!”
O que quer dizer fazer as coisas “para inglês ver”?
A expressão “para inglês ver” é comumente utilizada na língua portuguesa no sentido de algo que é aparente, mas não é válido ou real. Existem algumas teorias sobre o surgimento deste ditado, no entanto, a mais aceita diz que teria se originado por volta do começo do século XIX. A história conta que a Inglaterra, naquela época, pressionava o Brasil e o Império Português a criar leis que impedissem o tráfico de escravos para o país. O governo brasileiro, sabendo que tais regras nunca seriam cumpridas no país, criou leis falsas que, teoricamente, impediam o comércio da escravidão no Brasil. Porém, eram leis apenas para os ingleses verem e pararem de pressionar os líderes do país. Convencionou-se a partir deste episódio, utilizar a expressão “para inglês ver” como forma de nomear as leis demagógicas, que não possuíam qualquer funcionalidade prática. Neste artigo queremos refletir sobre a veracidade deste ditado popular na área da saúde.
Normas, leis e regulamentos da área da saúde são aparentes ou reais?
Vocês devem estar pensando, como assim?
É claro que as normas, leis e regulamentos da área da saúde são reais e devem ser cumpridas por todos os estabelecimentos prestadores de serviços de saúde. Parece óbvio, não é mesmo?
Quero compartilhar com vocês, minha experiência neste segmento e dizer que algumas vezes fui consultada por estabelecimentos de saúde, perguntando se construímos os documentos que garantam algum tipo de certificação, como por exemplo, a Acreditação. E mais, se contratarmos vocês garantem que receberemos o certificado de Acreditado Nível III?
Somos uma empresa de consultoria, que atua no desenvolvimento do sistema de gestão das organizações, analisando fluxos, definindo padrões de trabalho e apoiando as pessoas na empresa com metodologias específicas para cada perfil organizacional a fim de oferecermos soluções para atendimento aos requisitos legais, normativos e/ou certificatórios. Não garantimos a conquista do Certificado; asseguramos o desenvolvimento das pessoas, dos processos e de rotinas que atendam aos aspectos legais e também atendam necessidades dos clientes e demais partes interessadas, além de criar a cultura de “fazer certo da primeira vez”. E o certificado? É uma consequência dos processos funcionando para entregar valor aos clientes.
Quando as normas, leis e regulamentos são cumpridos em sua totalidade por um grupo de multiprofissionais integrados e embuídos de um propósito maior, o de salvar vidas, por exemplo, tudo fica mais fácil e torna-se real. Não é um conjunto de documentos e formulários sendo preenchidos “para inglês ver”, são documentos preenchidos com cuidado, veracidade e permitem avaliações mensais sobre o desempenho de cada processo.
É possível fazer qualidade na área da saúde?
O primeiro passo para fazer qualidade na área da saúde é desenvolver a cultura de qualidade. Cultura de Qualidade é um desafio para as organizações de qualquer segmento, porte ou modelo de negócio. Agora, você já imaginou a relevância da promoção de uma cultura de qualidade numa empresa do segmento de saúde?
Na área da saúde, estamos lidando com a vida das pessoas, num ambiente complexo, que reúne profissionais de diversas especialidades que devem atuar de forma colaborativa em prol do bem-estar do cliente. Além de toda a complexidade deste segmento, ainda precisamos desenvolver um ambiente de elevada eficiência operacional, com estrutura adequada, efetividade do cuidado e proporcionando uma jornada que se configure numa excelente experiência ao cliente. A cultura de qualidade é fundamental para viabilizar a implantação dos programas de Acreditação e/ou Certificação dos serviços de saúde.
Para fazer qualidade na área da saúde o primeiro passo é estabelecer o propósito. O propósito é a intenção de fazer algo, é ter vontade de participar de um projeto, de uma causa maior. Os profissionais da área da saúde precisam encontrar o seu propósito e a partir daí, fazer qualidade fará parte da sua rotina, pois ela vai viabilizar alcançar o propósito.
Neste sentido acreditamos que os estabelecimentos de saúde que possuem um propósito e conseguem engajar suas equipes neste propósito, norteados por um conjunto de valores, alicerçam suas atividades em padrões de trabalho que são cumpridos, sistematicamente revisados e aperfeiçoados, por que para estas organizações fazer qualidade faz parte da sua rotina, da sua satisfação pessoal e da integridade com que exerce sua profissão. Para estas pessoas e organizações fazer as coisas “para inglês ver” não faz sentido.
A qualidade na saúde
A qualidade na saúde não é para inglês ver, é para eu ver, é para meu cliente perceber o valor, é para o meu colega de trabalho ter suas atividades facilitadas, é para salvar vidas. Se cada um fizer a sua parte, sempre, mesmo que ninguém esteja olhando ou auditando e fizer isto porque acredita que é o melhor padrão para aquela atividade, então estaremos criando a cultura de fazer certo da primeira vez, internalizando as boas práticas assistenciais e sentido orgulho do trabalho realizado. Atuar na área da saúde é contribuir com o bem-estar das pessoas, é reduzir as falhas nos processos, é aumentar a segurança, é promover o aperfeiçoamento de padrões de qualidade em prol da excelência nos serviços prestados. Se você atua na área da saúde reflita sobre sua atuação diária e seja um promotor das boas práticas assistenciais.
Escrito por:
Consultora e CEO do Grupo Giovanoni, Ana Giovanoni.